segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Ok, eu admito que o último post não fez o menor sentido, mas vocês podiam comentar isso na caixinha ali em baixo, em vez de ir no MSN falar comigo.

De qualquer forma, dia 28 é minha cirurgia: vou botar silicone. (e essa é a hora que eu faço a dança da vitória) Então é BEM provável que eu suma por uns tempos, ou que eu dite os textos pra alguém e esse alguém poste por mim (o que vai diminuir completamente o número de erros de digitação, se você quer saber.)
E nem me venham com esse papo de "Oh, silicone, que tragéééééédia" que eu não aguento mais isso. Sou nova e vou botar, sim. Querem que eu bote o quê, quando eu tiver filhos? E aí meu peito vai ser lindo pra quem, pro meu filho? Fora que eu não quero ter filhos.

Ok, voltando. Saiu uma reportagem em um dos O Globo de semana passada, um caderno inteiro feito por estagiários, sobre a nova geração. E eu me senti, assim, TÃO desencaixada. Eu não sou uma celebridade virtual, não atualizo meu álbum do orkut diariamente, não sou vice-presidente de uma empresa de mentirinha, não fico na ala VIP das boates (aliás, nem gosto muito de boates, acho que o som é muito alto e não dá pra conversar)e nem tenho um profile fake no orkut.
Ai, eu me senti, assim, tão anos 60. eu sou fã de Beatles, turtles e Zombies. A coisa mais atual no meu repertório músical é Cranberries, que se desfez em 2003, se não me engano.(Ou gilberto gil, o que vocês acharem melhor). Eu ADORO Air Supply e não era nem um projeto quando a banda começou. Me sinto meio velha.
Outro dia ganhei Todos os Olhos e fiquei tão feliz, acho que estou meio perdida das pessoas da minha idade. Sei lá, elas ouvem britney, usam pulseiras vip e tiram milhões do fotos de si mesmas com maquiagens diferentes. Fora a parte das fotos, quando eu lembro de botar pilha na câmera, acho que não me enquadro. Não sei. Isso me deixou com uma sensação muito estranha.


Mas então, a parte interessante. Outro dia eu li Pollyana (menina) e, ao terminar, fiquei de mal humor. Meu deus do céu, aquela menina IMBECIL com aquele jogo estúpido me irritou tanto que eu cheguei a desejar que ela morresse sem pernas. Eu tive vontade de socá-la o livro inteiro. ODIEI.(Aliás, quem quiser me dar/emprestar/trocar Pollyana Moça, eu fico feliz: tô procurando pra ler. E aqui eu alongo o parágrafo pra explicar que o livro não é, assim, mal escrito. É só o positivismo qu eme irrita um pouco. e o resto. Mas é que eu não consigo parar um livro no meio ou sei lá. Ah, não sei. só sei que quero o segundo) Mas aí eu peguei uma mania de todo livro ruim que eu leio, ficar irritada. Aí ontem eu comecei um desses bets sellers (As aventuras de Nanny, ou qualquer coisa assim) e era simplesmente intragável, terrível, insuportável. Passei o dia todo irritada e o fim do livro era uma bosta, mesmo.

Agora estou angariando bons livros para ler durante a recuperação da cirurgia. Já tenho Dom Quixote, O pêndulo de Foucault, Baudolino, Ensaio sobre a lucidez, o Nome da Rosa e o meu bichinho inseparável que eu já li umas trocentas vezes, Como Água Para Chocolate (Não leiam, não é bom. É só nonsense e romântico e da Laura Esquível e eu sou uma boba. Ah, leiam sim! Eu gosto muito)

E estou no começo de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" há um mês, embora pretenda terminá-lo antes do dia 28. O livro é muito bom, mas Saramago não se lê: absorve. E eu leio um pedacinho e fico uma boa meia hora em silêncio, só pensando em absolutamente nada, meio vazia. Mas vazia de uma coisa meio cheia, que faz todo o sentido do mundo.

Então, quem tiver boas sugestões, é só mandar. Mas se concentrem em coisas mais velhas, que eu preciso ler todos os clássicos que ainda não li. O Livro do Bia não vale.



E só mais uma coisinha, você leitor(a) (Eu falo como se fossem muitos) que mora no rio: No CCBB 'tá passando Mãe Coragem e seus Filhos, do Brecht, atuado pelo Armazém Companhia de Teatro e traduzido pelo Alberto Guzik. A tradução está maravilhosa, a atuação nem se fala (embora eu ache que só o texto do brecht seja o suficiente pra convencer qualquer um) e eu passei metade do espetáculo com a boca meio aberta, porque a coisa tava me prendendo tanto que eu esquecia de fechar.
Vou confessar que quando eu saí de lá, chorei. Foi simplesmente maravilhoso e eu acho que todo mundo devia ir (e talvez por isso eu esteja recomendando). Louise Cardoso, que faz a personagem principal, está DIVINA e os dois atores que fazem os filhos dela são uns gatinhos.

Só isso, mesmo.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Tenho que me concentrar em alguma coisa, disse eu. a voz incerta, meio tonta, o quarto, uma bagunça só. Isto aqui, e então eu peguei a primeira coisa que vi que não parecia prestes a derrubar outras 15 na minha cabeça se tirada do lugar, isto aqui é uma lata de biscoitos.
E era mesmo. Uma lata de biscoitos amanteigados com uma menininha abraçando um gato e um cachorro gravados na tampa. Um objeto, uma coisa palpável. Algo a que me agarrar.
O quarto girou e eu girei junto, ambos estranhando aquela sensação nova que era sentir a rotação da terra aos nossos pés. Como é que eu consigo não cair?, eu perguntei, em voz alta. Nem o quarto e nem a lata de biscoitos ousaram responder.
Ontem eu derrubei uma garrafa sem querer, cheia de água. molhou tudo e, agora, eu pisava no molhado. Rodar não era uma coisa que fazia assim, tanto sentido. então eu acho que preferi sentar, ou talvez eu tenha caído mesmo. não importa. O importante é que eu molhei aminha bunda inteira naquela merda daquela água que eu tinha ficado com preguiça de secar e que já tinha molhado todos os meus documentos espalhados pelo chão.
Aí eu pensei, mas poxa, eu não tava segurando na lata? cair assim e ela cair comigo. e se eu estiver segurando numa estaca enfiada no chão e cair assim e ela cair comigo? Então eu percebi que aquilo não estava fazendo sentido e que eu devia estar trêbada e que a lata não ia me responder, por mais que eu quizesse, mesmo que ficasse me olhando curiosamente.
Mas aí foi que aconteceu uma coisa engraçada, alguma coisa se mexeu. Eu não vi, não sei o que foi que se mexeu, mas ficou aquela sensação de coisa se mexendo e eu até me perguntei se era eu mesma que tinha sei lá, tido um movimento involuntário, ou se a coisa toda era muito pior e tinha algo tipo um monstro rastejando pelas paredes.
Aí aconteceu uma coisa mais estranha ainda porque a parede abriu e de lá de dentro saltaram gnominhos verdes com capuzes azuis que tinham A CARA do pássaro do poema do Castro Alves, aquele que se chama Fábula - O Pássaro e a Flor.
Talvez eles parassem pra dançar pra mim, caso eu pedisse, mas acho que se assustariam primeiro, já que pensavam que eu não estava ali pra vê-los ou pra falar com eles.E seria muito estranho uma coisa que, tipo assim, não está ali do seu lado, parar você pra pedir uma dança.
Eles eram do tamanho do meu dedo, e começaram a recolher a água com seus gorrinhos minúsculos e levar pra dentro das paredes e eu não pude parar de pensar que eram aqueles putos que ‘tavam causando aquela merda daquela infiltração gigante na parede atrás do meu armário, deixando tudo meio mofado.
Então acho que eles meio que espremeram os meus documentos pra arranjar água. afinal se as pessoas precisam beber os gnomos também devem precisar.
E talvez eu tenha grunhido um pouco quando a minha identidade ficou toda, toda amassada e eu pensei que agora ninguém mais ia saber quem eu era, só eu, e ia ser difícil provar pras outras pessoas que eu era eu.
E no fim das contas eu até fiquei feliz, já que o meu CPF é um cartão tipo o do banco e eu ainda vou poder comprar uma geladeira, caso precise muito (ou caso não precise e só queira entrar dentro de um congelador e brincar de neve).
E agora eu acho que tenho uma compulsão por começar parágrafos minúsculos e absolutamente desnecessários, todos com a letra. E.

Não sei.

Mas sim, onde eu estava? Eu estava naquela infiltração. Eles levaram a água toda lá pra dentro e eu pensei que eles deviam ser muitos, pra precisar de um reservatório tão grande que conseguia manchar meia parede, mas continuei quietinha, pra ver o que eles iam fazer.
E não é que aqueles gnominhos encantados de merda roubaram minhas jujubas? Eu costumo guardar umas jujubas por precaução, vai que eu tenho um desejo incontrolável algum dia, e preciso delas? Bem, elas estão guardadas há dois anos, junto com uma miniatura do Kinder Ovo genérico, mas nunca se sabe. E eles pegaram aminha jujuba e entraram pela parede e foram embora e fecharam a parede, e eu fiquei um tempo meio estarrecida, firmemente agarrada à minha caixa de biscoitos, pensando em como tudo aquilo parecia não fazer sentido nenhum e, ao mesmo tempo, fazia todo o sentido do mundo.

Ok, talvez eu goste muito de chocolate, mesmo. Mas esse não era o tópico. Então, deixa eu continuar dizendo, eu voltei pra minha cama. Não voltei, porque não tinha estado lá assim tão recentemente, mas eu me levantei e deitei e meus travesseiros tinham sumido, então eu me abracei com a caixa de biscoitos em posição fetal e acho que só queria dormir um pouco.
É, de repente eu estava com muito sono.

Mas aí eu me revoltei, porque aqueles diabinhos de gorros estavam roubando as minhas jujubas e, quem sabe?, planejando um atentado contra a minha pessoa. Não tenho dúvidas que “convivência pacífica” não está na lista de qualidades daquela raça de ladrõezinhos imundos.
Então eu acho que gritei algo como “vão embora, seus putos” mas talvez tenha sido um “não desistirei do meu quarto!”, embora eu saiba que já perdi há muito tenpo. Tem mofo no meu armário e bactérias estranhas se proliferam livremente e cada dia eu bagunço mais e fico com mais e mais preguiça de arrumar. É mesmo uma batalha perdida, mas eu ainda tenho o meu orgulho.

Dormi um pouco, acho, e acordei algumas horas depois com a lata de biscoitos jogada do outro lado do quarto. Ainda tinha resquícios de água no chão mas as minhas jujubas não estavam mais ali.

e até agora eu não sei se foi um sonho mesmo.

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E sim, talvez eu tenha escritoum pouco como o Saramago, mas é só porque eu estou malignamente influenciada por ele enquanto leio "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", que é muito bom, por sinal.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O mendigo tinha uma roupa cinza escura meio suja e esfarrapada, e andava pela rua dando pulinhos.
Uma das pernas da sua calça imunda estava aberta na costura lateral e parecia uma meia-saia.
Seus cabelos sujos deviam feder.
Seu corpo sujo e magro devia feder.

As pessoas passavam
-limpas, com pressa,
com as calças costuradas-
E ninguém ligava pra ele.

até que ele teve uma idéia.

Ela nasceu no pé e foi levada até o cérebro aí voltou pro pe.


Ele passou a imitar as pessoas, uma por uma. até que elas saiam do cenário.

Com uma delas, foi pra longe.
(Voltou com um berro)

Voltou rodando.
Rodou, rodou e caiu no chão.



Aí também não levantou mais.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Outro dia eu fui entregar meu exame de urina no laboratório. É bem desconfortável andar de ônibus com um potinho escrito FEZES em letras garrafais, cuidando para não desequilibrá-lo e com medo de derramar tudo caso a tampa esteja mal fechada, mas essa não é a parte importante. Cheguei lá, dei o meu nome e sentei pra esperar. Eu e o meu potinho de FEZES. Aí chega um cara no MICROFONE e fala "SRA RAYSSA GALVÃO, FAVOR COMPARECER À SALA DE COLETA COM O MATERIAL DE COLETA" e então eu atravessei a sala cheia de gente que eu tinah certeza que estava olhando pra mim, com o meu potinho de FEZES cheio de urina, mas esse nem foi o problema.
O problema veio quando eu o entreguei.
-Um momento, Sra. - disse o cara, que deve ter percebido que eu era nova demais pra ser senhora mas preferiu não corrigir seu erro.
-Oi?
-Aqui diz que é exame de urina. - e ele apontou para o papel, triunfante.
-Sim, e..?
-No potinho diz FEZES. - e ele usou o tom explicativo que professoras do jardim d einfancia usam quando dizem que você tem que fazer carinho no bichinho, e não puxá-lo pelo rabo.
-Ah, sim. Mas é urina.
-Mas aqui diz fezes. - e agora ele parecia incrédulo: como eu poderia ser TÃO burra?
-Mas é urina, moço. Eu que fiz.
-Tem certeza? - e ele agora parecia estar duvidando da minha capacidade de diferenciar xixi de cocô. Uma coisa básica que a gente aprende ainda no peniquinho. "pobre menina sem cérebro", ele deve ter pensado.
-Claro que eu tenho certeza! Abre e olha, ué.
E então ele abriu e olhou. ABRIU E OLHOU, sabem? O meu xixi. Meu xixizinho. Na minah frente. E fez um "ah" e sorriu envergonhado, se desculpando pelo erro.
E eu fui embora sem dizer nada, com muita vergonha alheia e meio estupefada. Afinal, o que mais eu poderia fazer?

***___***

Então, acabou a CPMF. Eu ainda não tive tempo de ler a parte de economia do jornal, o que eu nunca fiz, pra saber como vai ser a minha vida sem isso, então se alguém quiser me dizer eu vou ficar feliz.
Mas era realmente horrível pegar o extrato e ver que seus preciosos dinheiros foram sugados pelo governo. De me deixar deprimida mesmo.
E ainda tem gente que fala que é um imposto justo, porque é cobrado de acordo com o que você tem e blablablá. CLARO QUE NÃO! Eu só sei disso porque minha avó tem uma empresa e tem que pagar um monte de coisas pra um monte de gente, mas as pessoas que lidam com muito dinheiro têm uma exigência principal: dinheiro VIVO, justamente pra não ter que pagar imposto. Como eu não posso exigir isso, tenho que doar meus preciosos pro governo.
Ah, que bom que acabou, não ia nada pra saúde mesmo. Tô cansada de ser roubada e não tenho nem metade da idade de muita gente que acredita piamente nos políticos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Aula de Geografia

Transumância é um tipo de migração sazonal, na qual o Homem permanece nos locais por períodos curtos e claramente determinados por um fator específico. Cortadores de cana, pessoas que trabalham em construção, pessoas que ficam fora no tempo de seca do nordeste. Todos eles e eu.

Nós temos juntos a mesma coisa, nós somos parte de um todo muito mais abrangente, muito mais completo. O nosso endereço é o mundo, e onde quer que as situações peçam pra gente estar, estaremos.
Nós temos em comum o desapego à terra, a consciência de que nada se perde de verdade, de que amigos, gente boa, gente ruim, há em qualquer lugar.
Nós temos em comum uma mesma verdade que nos cerca, que faz sentido.



Escolhi esse nome não por mudar sempre de casa, indo para onde quer que os eventos me levem, mas por mudar sempre de mim. Já morei em eus diferentes mas assim como o mundo nunca vai deixar de ser o mesmo, eu nunca consegui deixar de ser eu. Não de verdade.
E no fim eu acabo virando uma mistura, uma massa compacta de chão batido, cheio de coisas diferentes e pensamentos confusos e aleatórios.

(E também, claro, porque já perdi a conta de quantos blogs eu tive, por diferentes motivos.)