domingo, 23 de março de 2008

Telefone sem fio. (Porque eu nunca fui boa com títulos)

A minha primeira paixonite à distância foi um menininho da minha escola, a quem eu encontrava sempre nos momentos de descontração. Eu, boa menina extrovertida que sou, fiz logo amizade: faço logo amizade com quem quer que queira pois gosto muito de ter amigos. (é bem verdade que sou bastante boba de vez em quando, às vezes até um pouquinho chata, mas acredito sempre que acabo fazendo amigos.).

O nome dele não importa: há de ler aqui quem o reconheça, e isso é coisa que não quero. Porque reconhecê-lo seria tomá-lo de mim, e coisa ruim é quando tomam da gente lembranças bonitas de de quando a gente ainda era brotinho. O certo é que ele tinha um nome. Isso conta muito em se dizer, porque mostra que não era uma paixão imaginária, dessas coisinhas de criança mesmo. Vale dizer, ainda como prova, que eu nem era mais criança, devia ter meus 12, 13 anos, e já até tinha beijado um ou dois rapazes mais apressadinhos, desses que não levam a sério romantismos dos séculos passados.

Éramos, ele e eu e mais uns outros tantos, uma rodinha de pré-adolescentes. a gente estava ainda naquela época de se achar adulto e relembrar os bons tempos de infância, brincando de tudo que era velho quando éramos novos. E era essa rodinha o palco do nosso segredo mais bem guardado, a nossa paixão não confirmada e nem ao menos perguntada.

No começo era só um desviar de olhos rápido, quase sincronizado com o olhar do outro. Todo mundo formava uma rodinha e a gente ficava sempre longe, sempre avulso. Um meio perdido na fala do outro. meus amigos desconfiaram, porque eu, sempre falando alto, ficava mais quieta que falava. Acontecendo alguma coisa? falava que era nada, e era nada mesmo, ponto final. Ninguém insistia, porque sabia que se fosse alguma coisa, mais cedo ou mais tarde a minha língua ia contar por mim.

Mais tarde vieram as brincadeiras. Era o momento de regressão do grupo, mas tinha até justificativa filosófica. Éramos adolescentes, não crianças. Tudo havia que ter justificativas filosóficas para não ser confundido com as brincadeiras bobas dos pirralhos. Era um experimento científico, ora se não era. Era assim porque tínhamos saudades da época em que éramos daquele jeito, como se ainda não fôssemos. Dizíamos que não éramos mais crianças porque tínhamos perdido a inocência, mas que inocência que se perdeu aos 13 anos? Que inocência que se perdeu aos 80? A minha prova máxima de inocência é o meu romance segredado.

A primeira brincadeira que veio foi o passa-anel. Não sei porque não contei antes, mas é importante saber que, a essa altura, já sentávamos lado a lado, como se tivesse entre nós um magnetismo. E eu passava as minhas mãos frias entre as mãos quentes dele, tentando absorver ao máximo a textura, a temperatura, o jeito de mão de menino na minha mão de menina. Ele sorria pra mim, com os dedos. Qualquer movimento em falso e todos descobririam. Levei um susto quando ele apertou minha mão entre as dele por alguns segundos: era um quase clímax, um antegozo. Fiquei com medo de repararam, mas as mãos me sorriram tranqüilas.

Mas o passa-anel, esse não durou muito. Passamos logo para o jogo do sério, que era de duplinhas que ficavam se encarando pra sempre, um esperando o outro rir. Quando ficávamos juntos, um sempre ria. Mas a gente sempre disfarçava e ignorava, tão bom que era um perdido no olho do outro, aquela coisa meio bonita meio estranha, meio segredo e meio sagrada. Todos os dias um se perdia no outro, uma distância pequena, de uns dez centímetros só, que para nós era um muro intransponível. Vontade de passar até havia, mas mais forte era a vontade de deixar assim.

Até que todos cansaram de serem sérios, então passamos pro telefone sem fio. Enquanto todos duraram questão de semanas, o telefone sem fio ficou com a gente pro resto do ano. Era quase religioso, formar a rodinha e brincar de telefone sem fio. Era o nosso momento em que era permitido ser criança, mas ser criança com responsabilidade. Era-se, sempre, uma criança maculada, porque não se podia ser uma criança completa, ou os outros iam pensar mal.

A memória que mais guardo é a do telefone sem fio. É a de ouvir a voz dele sussurrada no meu ouvido, meio morna, meio intensa. Falando bobagens que eu não lembro mais. Eu só lembro do ato, não do resto. Era uma rodinha esquisita e ninguém falava nada. A gente se olhava e trocava sussurros apaixonados, mas as pessoas viam apenas um jogo. Nós éramos namorados à distância, e a nossa distância não era maior do que dez centímetros, e era maior que qualquer uma.

Do jeito que começou, terminou, ele saiu da escola e a gente não se viu mais. Bobos que éramos, não guardávamos outro meio de contato senão aquele que nos parecia certo. Ele foi embora e foi o fim, mas de fim eu não vou ficar falando, que depois vão me dizer sentimental.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sobrevivi

Hoje teve simulado.

Quatro horas de prova, de todas as matérias possíveis e imaginávei. É, não foi nada agradável. Hoje teve simulado e até agora eu quero sair correndo atrás dos professoers perguntando o gabarito das provas. Não que eu seja psicótica, longe disso.

eu errei duas questões no cartão resposta, aliás, mas é que ficava tudo muito juntinho e sem espaço e eu entrei em desespero. E é claro que eu chutei toda a prova de matemática 3 e de física 2. E que cansei de fazercálculos nomeio da prova de química e marquei as alternativas mais bonitas.

E quando terminou o simulado eu não era capaz de um pensamento lógico sequer. Vinham palavras como 'água, cabelo, japona-boina" à minha cabeça, mas eu acabei guardando a garrafinha, prendendo o cabelo, fechando a japona e colocando a boina a tempo.

E quando eu saí do simulado o dia lá fora fazia sol e eu encontrei pessoas e descobri que elas tinham errado tanto quanto eu - e só então eu pude respirar aliviada.

sábado, 15 de março de 2008

Demorei, eu sei.

Isto, bem, isto. Uma lata de biscoitos não é muito mais do que ferro e vazio. O ferro que molda o vazio. As coisas, todas elas, as coisas são o que têm que ser, e só o são por causa do grande espaço vazio.

O que molda, o vazio às coisas ou as coisas ao vazio? Quem molda a nós? Nós mesmo?

Uma lata de biscoitos é o que é. Mas é muito mais, tem potencial. Poderia conter o mundo, poderia conter toda uma existência amorosa e perfumada em papéis amarelados que não valem mais. Poderia conter o mundo, poderia conter vermelho-sangue. Mas não, contém biscoitos.

Deliciosos biscoitos cor-de-areia, amanteigados. Sabor, nenhum. Às vezes ocre; às vezes acre. Sabor de amargo dissabor.


A dama e o gato me olham e guardam a entrada. Me vigiam de costas enquanto cato um ou dois biscoitos. Vestidos como o dela, hoje em dia, só vejo em quadros de antigamente, desses que avó costuma gostar.

Tudo insuportavelmente romântico. Tudo uma série de sugestões sacanas, conexões malditas. Ironia deve ser um crime.

A mulher me olhava com o conhecido olhar de “não mais’. Não mais que dois biscoitos, era um trato.

Peguei, comi, fechei a lata e fui embora.




















Mulheres modernas são mesmo umas enganadoras.


*-*-*

Voltei outra vez. Texto inalgural de retorno, meio ácido. Retorno meio ácido. Mas só por um ângulo, porque pelo resto todo é só sorrisos sinceros.

Voltei, outra vez.
Mas dessa vez eu juro que é pra valer, por um tempo mais longo. Eu tava era com vergonha de voltar aqui, porque sabe, andei com uma crise de "escrevo mal", depois que resolvi transcrever um início de livro que tinha, pra tentar continuar, e achei uma bosta. Coisa de pré adolescente mesmo. mas aí escrevi esse aí de cima e achei legal.

Prometo que vou tentar ser melhor. Prometo que vou tentar voar. Prometo que vou (e volto)

E Manu, agora eu voltei de verdade.

=*