terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sobre dias longos e noites curtas

Acordar cedo nunca me fez bem. Na verdade, acordar cedo nunca fez bem a ninguém que não more na montanha, coma só legumes e tenha uma constituição levemente vegetal, mas já que é pra ir pra escola, vamos para a escola. A escola é muito blablablá. Sem a escola, ninguém blablablá. Por isso eu me jogo pra fora da cama todos os dias as 5 e meia.
Nos últimos dias, adiquiri o estranho hábido de simplesmente rolar para o lado e me deixar cair pra fora da cama. Não no chão, e sim na bagunça que se acumula do lado da minha cama, que é fofinha por causa do monte de roupas que está jogado ali. Aí eu vergonhosamente tateio em busca do celular histérico, muitas vezes rastejando pelo quarto inteiro até encontrá-lo - em cima da minha cama.
Acho que eu faço mais barulho de manhã do que todos os meus vizinhos juntos, inclusive aquele que liga o liquidificador todos os dias, quandoe u ainda etsou me acostumando com a claridade. Devem pensar que eu mato um porco todas as manhãs, ou coisa parecida. É que eu tenho que alimentar todos os dançarinos que moram aqui em casa e que rebolam, pulam e sapateiam todas as noites.
Outro dia a minha vizinha, uma que vende calcinhas, veio perguntar pra mim "que é essa coisa de Yoga", porque ela entrou aqui em casa e deu de cara com o Ganesha da minha mãe, uma tapeçaria semi-gigante cujos olhos brilham no escuro e são culpados pelo meu medo de passear pela sala no escuro. Então talvez eles pensem que eu mato porcos pro meu ritual satânico, no qual eu sapateio a noite inteira.

A minha casa tem mesmo umas coisas assustadoras. Além do ganesha de olhos brilhantes, tem ainda um quadro de um travesti fazendo bolinhas de sabão, que fica bem de cara pra porta e é iluminado pela luz fantasmagórica do computador. Imaginem meu susto ao sair do banheiro e olhar praquela aparição, fazendo bolinhas de sabão alegremente, a noite toda...
Mas a coisa mais assustadora de todas, é um quadro de hortênsias pintado pela minha tia avó católica e sessentona. Não que ela pinte mal, longe disso. Mas é que os tons do quadro fazem, direitinho, a cara de um Et. Assim, quando a luz apaga e fica aquela penumbra esquisita, sabe? Depois que você se acostuma, dá pra ver o ET até de dia.
Esse quadro costumava ficar de frente pra minha cama. Claro, eu evitava levantar e me mexer e olhar muito diretamente pra ele. O mais impressionante é que eu não fui a única a ver o bicho no quadro, sabe? E minha tia avó sessentona e católica jamais desenharia um et sublinarmente. Só pude concluir, na época, que eram etês de verdade. Passei noites insones pensando na minha morte, até que, um dia, fiquei subitamente tranquila. Pois eu ia morrer, e a frieza desse fato me acalmava.
Mas essa história eu conto, com mais riqueza de detalhes, outro dia. Não era sobre isso que eu vinha falar.

As noites têm passado rapidamente: do momento em que eu vou dormir ao que eu acordo, é apenas um piscar de olhos. Mas os dias, esses não. esses são quentes e se arrastam em aulas de física entediantes e longas filas do Riocard, e esperas nomédico, e almoços em grupo. E parece que eles são só isso, não reunem nada de produtivo, não aprendi nada, não apreendi nada.
Comprei um caderno, esses dias. quem me conhece bem há de perguntar "mais um!?", que eu sou mesmo a rainha dos cadernos, mas é que eu precisava memso era me organizar. Comprei um papel rosa e fiz uma "to do list", com uma caneta cheia de glitter. Preguei no meu treco de avisos, mas parece que ela caiu no chão molhado e a empregada acabou jogando fora. Ninguém se importamuito com as minhas responsabilidades, enquanto eu finjo que as cumpro.
mas nem esse caderno tem adiantado muito e eu passo os meus dias numa preguiça e num marasmo incontroláveis, não sobra nem tempo pra vir aqui.

Eu queria mesmo é que durante o dia eu fosse insone, e passasse as noites nessa lentidão de sempre, aí que ia funcionar tudo bem. Mas por quê que botam as aulas de matemática no primeiro horário de segunda feira, mesmo?