domingo, 6 de junho de 2010

Meu problema é a eternidade

não acredito
que o tempo
exista. Acho mais
que o tempo aconteça
vez ou outra.

[chove pra sempre
o vento faz um barulho horrível
esse tictac constante me irrita
e a solidão do não estar comigo
é maior que a solidão do nunca ter estado]

não acredito no fim do mundo
não faço planos
nem deixo nada pra amanhã

amanhã minha vida não existe.
o que acontece comigo é há pouco tempo e agora
e se eu lembro, é porque o pouco tempo atrás volta à tona
como cortinas se abrem
(pra passar um palhaço num tanque de mergulho?)
pros personagens poderem respirar

o passado me acontece
agora
como se eu levasse um caixote
me embolasse na areia
e fosse morrer afogada

e a memória falha me salva
me traz o ar
pra que eu possa criar mais passados.

(o futuro não existe,
é uma mentira bonita
como uma menina que mal sabe a cor dos próprios cabelos
tem cara de outra qualquer
e acha que o que escreve é poesia
(mas não gosto nada dos poemas dela)

e é falso,
como quando a menina cresce
e vê
que era tudo mentira

e para de escrever poemas
para olhar pro lado
e ver a vida.)

[a chuva
persiste
à minha vontade de sol]