quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Eu sou
um pouco melhor do que meus pais acreditam

mas consideravelmente

mais triste.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Retrato de desespero

Com um último trago, eu me pergunto o que de ruim a madrugada faz com a gente.

Em resposta, ela só sorri.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

hand your heart to her
and say
touch it
but then
give it back
(buk)

a nossa noite
escura como uma manhã anestesiada de domingo
é um despreparo
embalado para viagem.

domingo, 6 de junho de 2010

Meu problema é a eternidade

não acredito
que o tempo
exista. Acho mais
que o tempo aconteça
vez ou outra.

[chove pra sempre
o vento faz um barulho horrível
esse tictac constante me irrita
e a solidão do não estar comigo
é maior que a solidão do nunca ter estado]

não acredito no fim do mundo
não faço planos
nem deixo nada pra amanhã

amanhã minha vida não existe.
o que acontece comigo é há pouco tempo e agora
e se eu lembro, é porque o pouco tempo atrás volta à tona
como cortinas se abrem
(pra passar um palhaço num tanque de mergulho?)
pros personagens poderem respirar

o passado me acontece
agora
como se eu levasse um caixote
me embolasse na areia
e fosse morrer afogada

e a memória falha me salva
me traz o ar
pra que eu possa criar mais passados.

(o futuro não existe,
é uma mentira bonita
como uma menina que mal sabe a cor dos próprios cabelos
tem cara de outra qualquer
e acha que o que escreve é poesia
(mas não gosto nada dos poemas dela)

e é falso,
como quando a menina cresce
e vê
que era tudo mentira

e para de escrever poemas
para olhar pro lado
e ver a vida.)

[a chuva
persiste
à minha vontade de sol]

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Agridoce
-Mais doce do que ágrio-
no fundo do copo

Reflexo de mim nos seus olhos
que eu não vejo e nem você.
mas todo mundo
-de olhos fechados-
vê.

Não há
esperança
no fundo do copo
Só um ácido doce pra temperar o céu

você se curva e espera o mundo chegar
de volta
de viagem

Eu me jogo no fundo do copo,
pra me afogar,
mas é raso

There is no running away for you
(if there were only hope...)

eu bebo tudo no doce
e escapo de você aos milhares
e volto.
Bêbada eu volto
Sóbria eu volto

There is no running away from you
(if only
if only i wanted to)

Não há escapatória
expíatória
diretória
Não há nada
quando você me diz 'preu ir.

sábado, 10 de outubro de 2009

Indo para madureira,

Hoje me surpreendi ao me deparar com uma fábrica de batatas fritas.
Não por seu letreiro escrito "fábrica de batatas fritas"
Nem por suas cores berrantes e seu aspecto de coisa falsamente alegre, como animadores de festas infantis.
Muito menos por ser uma fábrica
Ou uma fábrica
de batatas fritas.

Mas porque batatas, hoje em dia, são fabricadas. Artificiais, e apenas reais por fora.
Porque desse chão - nosso - não nascem mais batatas, elas agora precisam ser plantadas.
E talvez nem flores nasçam mais (estaremos condenados à pretensa eternidade do plástico)
Daí então, talvez nem nossas baratas nascerão fora das fábricas; e tudo o que conhecemos é feio,
é feito, é artificial.
Quiçá não nasçam mais homens, para que homens com olhos não hajam para ver nascer a primeira borboleta
in vitro

Deus, espantado, percebe agora que deuses se fabricam aos montes, e o que lhe resta de divindade vai morrer
As máquinas produzem fé, que é vendida em lotes de 3.
Discursos políticos saem, com defeito, aos milhares.
E os cientistas continuam tentando.
Mas é preciso que se liberte o primeiro homem biônico e que voe contra o sol - o que nos resta- a primeira
borboleta morta. Assim talvez desistam de tentar fabricar esperança.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Curtas

Para PH Wolf,
durante uma aula informal


O menino embevecido auscultava e escrevia
a palavra surpresa.
A menina, por sua vez, sentia.