sábado, 10 de outubro de 2009

Indo para madureira,

Hoje me surpreendi ao me deparar com uma fábrica de batatas fritas.
Não por seu letreiro escrito "fábrica de batatas fritas"
Nem por suas cores berrantes e seu aspecto de coisa falsamente alegre, como animadores de festas infantis.
Muito menos por ser uma fábrica
Ou uma fábrica
de batatas fritas.

Mas porque batatas, hoje em dia, são fabricadas. Artificiais, e apenas reais por fora.
Porque desse chão - nosso - não nascem mais batatas, elas agora precisam ser plantadas.
E talvez nem flores nasçam mais (estaremos condenados à pretensa eternidade do plástico)
Daí então, talvez nem nossas baratas nascerão fora das fábricas; e tudo o que conhecemos é feio,
é feito, é artificial.
Quiçá não nasçam mais homens, para que homens com olhos não hajam para ver nascer a primeira borboleta
in vitro

Deus, espantado, percebe agora que deuses se fabricam aos montes, e o que lhe resta de divindade vai morrer
As máquinas produzem fé, que é vendida em lotes de 3.
Discursos políticos saem, com defeito, aos milhares.
E os cientistas continuam tentando.
Mas é preciso que se liberte o primeiro homem biônico e que voe contra o sol - o que nos resta- a primeira
borboleta morta. Assim talvez desistam de tentar fabricar esperança.

3 comentários:

PH Wolf disse...

Curioso, ler esse texto sem o intermediário da sua voz dá uma outra pegada, mas séria e reflexiva. Me surpreendeu.

Juh disse...

Admirável.

Rafael Lemos: Multitudes. disse...

"estaremos condenados à pretensa eternidade do plástico" é o tipo de coisa urgente a se notar.